arte de Carlos Latuff |
após ler o relato publicado no blog do G10, senti o dever de divulgar uma cena a qual presenciei quando estava fazendo a pesquisa de campo na FASE (CASE-Pelotas)...
"em mais um dia de pesquisa, como vários outros.. chego à FASE de manha, e estaciono o carro bem a frente da instituição.. saliente-se que o meio feio da calçada era branco e sequer tinha alguma placa indicando que era proibido estacionar...estava aguardando para ser atendido pelos profissionais, que me auxiliariam na pesquisa, encaminhando os jovens, um a um, para que pudesse dar continuidade nas entrevistas..estavam em reunião e eu aguardando no hall de entrada, juntamente com a secretária da casa..quando então, entra neste ambiente, um policial militar que faz a segurança do perímetro, esbravejando, em elevado tom de voz e severidade, perguntando de quem era o carro que estava estacionado... eu levando a mão e digo que é meu!!
eu não estava de terno, gravata, ou qualquer parafernália classista auto-identificadora do gênero... então ele se dirige a mim com voz grossa, tom elevado e peito estufado, e pergunta.. o TU é pai de marginal? tá fazendo o que aqui?.. pode tirar o carro la da frente..não pode ficar lá!! eu apenas digo que, não havia nada que indicasse que não podia... e ele diz que mesmo assim não pode, pois oferece risco ao seu perímetro..!! ele reafirma a pergunta..se eu tava esperando pra ver vagabundo!!
a secretária, envergonhada, diz - ele é professor! Ele ainda com o tom de voz elevado, pergunta, é professor da casa...eu digo, não, não sou professor da casa..sou advogado e mestrando da UCPel (eu não gosto disso, mas ele precisava! e diga-se de passagem, nem atuando estou, ou estava!! mas sobretudo queria ver a sua reação - e vi!!) e to aqui fazendo uma pesquisa para o mestrado da Universidade Católica de Pelotas..
arte de Carlos Latuff |
a partir de então ele muda o tom de voz e murcha o peito... eu fui me levantando para me dirigir ao carro e retirar de onde estava... e ele me acompanha..não obstante tenha baixado o tom de voz, o discurso preconceituoso continua...me dá tapinha nas costas e diz.. DR..por favor, o Sr. tira o carro de la.. porque o sr. sabe né.. daqui a pouco chega pai, mãe, família de marginal ai, e vão ver seu carro la e eu não vou ter o que dizer.. já vai dar encrenca...o sr. faz o seguinte.. eu abro o portão e o sr. coloca no estacionamento.. porque o sr. sabe.. aqui do lado também tem o presidio.. e é perigoso.. Eu disse não.. muito obrigado, mas eu vou colocar do outro lado da rua.!!
quando mudei o carro de lugar.. e voltei a entrar no patio.. ele me disse.. obrigado professor.. pela gentileza e compreensão!!!entrei novamente na sala onde estava.. e comento com a secretária.. como aquele sr. era educado!! e ela diz.. ah, não dá bola.. ELES são sempre assim!!!"
(compreensão???? gentileza??? eles não conhecem o que é isso !!!!!!!)
obviamente que este relato não chega aos pés do trazido pelo caso de violência física e tortura verificado em PoA... mas demonstra o animus da bendita socioeducação..!!
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