Democracia paraguaia
Logo no país ao lado a fetichização do poder, como diria o filósofo argentino radicado no
México, Enrique Dussel, em sua Tese 5[1]
sobre a política, a potestas (poder
institucionalizado) toma conta do poder político e fetichizando-o aniquila o potencial transformador originário,
vontade da potentia (povo).
Fazendo a leitura dessa tese nos remetemos
aos acontecimentos que estão rotineiramente no caminho político após o circo
eleitoral tradicional, midiático, hilário... somos levados acreditar que a
funcionalidade do sistema é essa mesma, se elege para representar, logo o
representante e seus atos têm a manifestação da vontade do “povo”, generalidade
abstrata e ridícula de um discurso pobre e que arrogantemente nos é enfiado
goela abaixo como uma verdade repetida repentinamente.
Quando a potentia
(povo) se rebela nas ruas na forma de movimentos populares contra a usurpação
da sua vontade pelo poder constituído (democraticamente pelo voto), verdadeiro
momento de transição ao horizonte utópico da transformação.. insurge o discurso
jurídico-formal para repressão e reprovação de qualquer ato que não esteja
dentro do “Estado Democrático de Direito” e da “Boa ordem”, ou diríamos “Estado
Despótico de Direito”. Não faltam argumentos (maioria deles jurídicos) em
defesa da potestas fetichizada
(democracia representativa) para desligitimar a verdadeira manifestação
democrática nas ruas, afinal se seu poder já esta representado não há
necessidade da população desorganizar a ordem para interferir no nobre ofício
político dos parlamentares, está na lei! manifestação é fora da lei! estamos
agindo dentro da legalidade! Vocês fora! estão fora! e quem está fora não
fortalece a democracia (fetichizada).
Inverte-se a ideia democrática para lógica
hipócrita de um sistema político asqueroso, perde-se o debate profundo da
manifestação e dos gritos das ruas, para o “jeitinho” político da teatral cena
cotidiana de sessões de “acordos” parlamentares, ilegítimas do ponto de vista a
não representar vontade alguma concreta, exceto os interesses partidários legitimados
na abstração “interesse do povo”.. que oprimem a real vontade da potentia (povo). Ou seja, a cena
democrática atual torna abstrato a ideia da vontade política da potentia ao mesmo tempo em que
concretiza a vontade política da potestas,
apropriando-se como dono daquilo que não foi lhe dado e sim delegado (fetichização do poder político).
Parece que casualmente no Paraguai a
democracia representativa dá mais um belo exemplo da sua insuficiência e
esgotamento como paradigma moderno ilusório, mais uma promessa vazia e
expectativas minoradas. Surge no contexto político da América Latina um novo
conceito “Golpe Democrático”, terminologia controversa em outros tempos, mas
que atualmente irrompe na realidade para anunciar que a fetichização política da democracia representativa, é um jogo
incoerente de soma zero para o poder popular (potentia dusseliana).
E, por acabar de pensar que estamos bem
próximos a novamente entrar nesse modelo democrático falido, preconceituosamente
chamado aqui de paraguaio, por que afinal não foram eles que inventaram??
Lucas Machado
Floripa, junho de 2012
Após o amigo Lucas Machado apresentar de ótima forma... em uma escrita no melhor estilo waratiano... ou seja.. com tesão!! que muitas vezes nos é castrada nos discursos acadêmicos, não poderia deixar de trazer uma alternativa, através de uma belíssima entrevista que trata de la teoria juridica de la indignación.! os dejo con BOA!!
[1] Livro de
DUSSEL, Enrique. 20 Teses de Política, 1ed. Buenos Aires:
Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales – CLACSO; São Paulo: Expressão
Popular , 2007.
Me ocorre varias ideias a partir do seu "desabafo", por exemplo uma reflexão sobre a democracia. Na América Latina, temos realmente uma "democracia representativa"?. Concordo contigo nos argumentos mas discordo da categoria "democracia representativa" Parece-me que é mais "democracia delegativa" visto que, "Quando a potentia (povo) se rebela nas ruas na forma de movimentos populares contra a usurpação da sua vontade pelo poder constituído (democraticamente pelo voto)" se fosse representativa, acataria a vontade do povo não é?
ResponderExcluirNossa democracia é apenas "participativa" na hora das eleições (ainda tenho minhas duvidas a esse respeito, mas em fim) ao votar escolhemos quem irá tomar decisões por nós, depois disso, o povo é simplesmente espectador dos acontecimentos politicos e economicos (isso porque das subjetividades ainda não conseguiram se apropriar inteiramente, -humm é para se pensar também- http://www.youtube.com/watch?v=DkFJE8ZdeG8. Vamos deixar por enquanto, subjetividade para "calle trece")
Sou a favor da democracia participativa, enfatizo, participativa não esta que temos. Segundo o Gramsci a democracia é necessária para dar um paso à frente rumo a um socialismo e logo à tão desejada "sociedade regulada" ou seja "comunismo". Claro que o italiano, vai colocando todas as complexidades neste processo que eu vou resumir em "formação politica" e re-construção do "senso comum" (conste que Gramsci não reduce a isto, sou eu quem estou simplificando).
É utopia?, pode ser, mas como acredito no materialismo histórico, logo, acredito que todo o que é construido pode ser re-construido.