quarta-feira, 29 de junho de 2011


ASSESSORIA JURÍDICA POPULAR NO BRASIL por Vladimir de Carvalho Luz

Data: 05 Julho de 2011
Horário: 10 h no Auditório do CCJ/UFSC
14 h Oficina temática na sala 009/CCJ/UFSC

Realização:
NEPE - Núcleo de Estudos e Práticas Emancipatórias
Caxif - Centro Acadêmico XI Fevereiro
SAJU - Serviço de Assessoria Jurídica Popular
Apoio:
Fundação José Arthur Boiteux - Funjab

segunda-feira, 27 de junho de 2011

En mejor estilo Dussel, con las venas abiertas

Esta postagem não é para fazer a sugestão de um filme, mas sim uma exaltação de uma obra prima que deve ser assistido por todo mundo, sobretudo qualquer latinoamericano que se preze.

O filme se chama – También La Lluvia (ever the rain)
Dirigido por: Iciar Bollaín
España 2011 (filme muito provavelmente inédito no Brasil e no mundo.. mas como isto aqui só tem fim cientifico e por uma tomada de consciencia, entonces el Capital no se importa..!! / sitio para download http://www.degracaemaisgostoso.org/filmes/page/5)

A obra retrata um grupo de produtores cinematográficos alternativos que se dispõem a filmar e representar a história de Bartolomé de Las Casas e a história da colonização/dizimação espanhola. E que nossos livros de histórias ordinários (no sentido semântico e pejorativo da palavra) insistem em esquecer, ou simplesmente apagar/silenciar!!

Entretanto, tal filmagem se dá em meio ao processo de privatização da distribuição da água na Bolívia e a consequente onda de manifestos e produção de revolta, que se transforma no pior monstro (de que fala Negri) que a modernidade pode enfrentar.. e no monstro que temos que nos transformar diariamente..

Para não adentrar mais no mérito da obra.. e não retirar a curiosidade.. termino esta incitação apenas con una cita del película “fuzil, metralla, el pueblo no se calla..” – e ainda que.. com perdão da terminologia – es una película de carajo!!! E no melhor estilo Enrique Dussel e Eduardo Galeano, com suas (e nossas) venas abiertas de la  America Latina.!!!!


trailer oficial:

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Outro mundo é possível, e está no ventre deste! – por Eduardo Galeano



Muito embora já tenha sido divulgada amplamente pelas redes sociais, acredito ser necessária essa nova divulgação, da entrevista de Eduardo Galeano, falando diretamente e informalmente (dialogando) em uma manifestação ocorrida na praça Catalunya meio ao protestos que tem ocorrido na Espanha, com a intenção de reforma política e construção de processos democráticos, por quem verdadeiramente tem que a construir e conduzir, o povo genuinamente cidadão.

Tais manifestações já foram objeto de postagem neste espaço, pelo amigo Lucas Machado. Mas convém trazer novamente algumas considerações, a fim de proceder o link com as colocações de Galeano.

Neste sentido, o autor coloca constantemente a importância da democracia real, sem determinações engessadas e manipuladas, ou como diria Boaventura de Sousa Santos, uma democracia sem fim, ou ainda, como propõe Vera Regina Pereira e Andrade, uma cidadania instituinte da democracia e não uma cidadania instituída pela democracia positivista e  meramente pseudo-representativa.

Assim, Galeano vê nas manifestações que tem ocorrido no Espanha e mais recentemente na Grécia, a construção da nova e urgente democracia, na qual a juventude tem papel primordial; Boaventura traz ainda, a iminente revolução paradigmática que afetará todo  paradigma de sociabilidade, de governabilidade e de cientificidade.

Encerrando a presente abordagem, utilizando-se novamente de Galeano, este mundo de merda, gesta em seu ventre um novo mundo, que é sim possível; e que começa a nascer a partir de cada processo de movimentação popular, contestação, tomada de consciência e demonstrações de alteridades múltiplas e multifacetadas, com suas necessidades ímpares e particularidades identitárias, que a dinâmica moderna não tem condições ou intenção de abarcar em seu mapa cognitivo restritivo e repressivo/dominador.

Para acompanhar as ricas contribuições do autor, ver:
GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: escola do mundo ao avesso;
GALEANO, Eduardo. Espejos: una historia casi universal; 
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da America Latina;
Entre tantos outros…

sábado, 4 de junho de 2011

Enquanto isso.. no Brasil – a errática linha do Estado Policialesco



Enquanto a Espanha vive um estado de efervescência da democracia, como bem coloca meu amigo Lucas, feita nas ruas, pelos verdadeiros detentores de seu poder, a população!... no Brasil se vive a proibição e repressão a manifestante que aderem à Marcha da Maconha e a sua discussão e reflexão.. pois é proibido não só consumir e defender, mas principalmente  pensar.. em um mundo diferente.

Neste sentido, gostaria trazer, com profundo pesar, mais um absurdo repressivista cometido no Brasil. A manifestação dos bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, que terminou com a prisão de praticamente todo o contingente de manifestantes e pertencentes à corporação militar.
Estranhamente (ou nem tanto), tal ação policialesca se volta contra a própria corporação militar e policial, demonstrando que a luta não é contra o crime, ou o que quer que isso signifique, mas sim contra qualquer elemento corporeo ou não que ameace o sistema. O que não condiz em nada com o Estado democrático de Direito (e não que eu acredite que ele exista..até mesmo por este tipo de ação, que se torna cada vez mais frequente e rígida/violenta).

Mais estranhamente ainda, mas que em nada surpreende, é a declaração pública do Governador do Estado do Rio de Janeiro, denominando de criminosos os manifestantes, pouco tempo após ter ido a publico para enaltecer a ação policial no caso da escola, também comentado neste espaço.
A questão aqui não é defender a polícia, a corporação, os bombeiros.. ou qualquer atitude policialesca ou mesmo que a sociedade precisa de mais ou menos policiamento; mas simplesmente refletir acerca do absurdo que foi a repressão ao protesto de indivíduos, que antes de serem pertencentes à corporação, são seres humanos e necessitam de condições dignas para salvar a vida de pessoas, como a do governador. E essas condições de vida, no nosso mundo de consumo moderno líquido, não podem ser comprados e acessados com R$ 900 reais, aproximadamente, por mês; nem mesmo com as medalhas e honrarias públicas da corporação e do governo. E o quanto é errática a linha que divide a legalidade do crime e a sua rotulação e consequente ação enérgica e que pode se voltar contra qualquer um.. inclusive contra membros do próprio sistema que se tornam corpos  estranhos rapidamente  e devem ser eliminados/neutralizados.

Desejo que sejamos influenciados pela rebeldia, no sentido atribuído por Touraine, e que atualmente se localiza e pulsa na Espanha, e transformemo-nos nos pior dos monstros – a multidao, como propõe Antonio Negri !! 


A pensar nas eleições


Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras.

Nos próximos tempos, as elites conservadoras europeias, tanto políticas como culturais, vão ter um choque: os europeus são gente comum e, quando sujeitos às mesmas provações ou às mesmas frustrações por que têm passado outros povos noutras regiões do mundo, em vez de reagir à europeia, reagem como eles. Para essas elites, reagir à europeia é acreditar nas instituições e agir sempre nos limites que elas impõem. Um bom cidadão é um cidadão bem comportado, e este é o que vive entre as comportas das instituições.

Dado o desigual desenvolvimento do mundo, não é de prever que os europeus venham a ser sujeitos, nos tempos mais próximos, às mesmas provações a que têm sido sujeitos os africanos, os latino-americanos ou os asiáticos. Mas tudo indica que possam vir a ser sujeitos às mesmas frustrações. Formulado de modos muito diversos, o desejo de uma sociedade mais democrática e mais justa é hoje um bem comum da humanidade. O papel das instituições é regular as expectativas dos cidadãos de modo a evitar que o abismo entre esse desejo e a sua realização não seja tão grande que a frustração atinja níveis perturbadores.

Ora é observável um pouco por toda a parte que as instituições existentes estão a desempenhar pior o seu papel, sendo-lhes cada vez mais difícil conter a frustração dos cidadãos. Se as instituições existentes não servem, é necessário reformá-las ou criar outras. Enquanto tal não ocorre, é legítimo e democrático atuar à margem delas, pacificamente, nas ruas e nas praças. Estamos a entrar num período pós-institucional.

Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras. Os acampados não têm de ser impecáveis nas suas análises, exaustivos nas suas denúncias ou rigorosos nas suas propostas. Basta-lhes ser clarividentes na urgência em ampliar a agenda política e o horizonte de possibilidades democráticas, e genuínos na aspiração a uma vida digna e social e ecologicamente mais justa.

Para contextualizar a luta das acampadas e dos acampados, são oportunas duas observações. A primeira é que, ao contrário dos jovens (anarquistas e outros) das ruas de Londres, Paris e Moscou no início do século XX, os acampados não lançam bombas nem atentam contra a vida dos dirigentes políticos. Manifestam-se pacificamente e a favor de mais democracia. É um avanço histórico notável que só a miopia das ideologias e a estreiteza dos interesses não permite ver. Apesar de todas as armadilhas do liberalismo, a democracia entrou no imaginário das grandes maiorias como um ideal libertador, o ideal da democracia verdadeira ou real. É um ideal que, se levado a sério, constitui uma ameaça fatal para aqueles cujo dinheiro ou posição social lhes tem permitido manipular impunemente o jogo democrático.

A segunda observação é que os momentos mais criativos da democracia raramente ocorreram nas salas dos parlamentos. Ocorreram nas ruas, onde os cidadãos revoltados forçaram as mudanças de regime ou a ampliação das agendas políticas. Entre muitas outras demandas, os acampados exigem a resistência às imposições da troika para que a vida dos cidadãos tenha prioridade sobre os lucros dos banqueiros e especuladores; a recusa ou a renegociação da dívida; um modelo de desenvolvimento social e ecologicamente justo; o fim da discriminação sexual e racial e da xenofobia contra os imigrantes; a não privatização de bens comuns da humanidade, como a água, ou de bens públicos, como os correios; a reforma do sistema político para o tornar mais participativo, mais transparente e imune à corrupção.

A pensar nas eleições acabei por não falar das eleições. Não falei?
Boaventura de Sousa Santos

Disponível no site Sul 21 http://sul21.com.br/jornal/2011/06/a-pensar-nas-eleicoes/