segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Comunicando a luta e fazendo democracia


Essa postagem se justifica no sentido de que, analisado o caso do Egito e da vitória popular conquistada naquele espaço tempo e antes pelo povo tunisiano, ainda que não perca e nenhum momento e nível a sua importância, talvez a sua maior significação, no meu entendimento, seja o rompimento com uma “naturalidade” instaurada no tempo/espaço da região/cultura Árabe e que ocasiona as insurgências comunitárias locais. Como é o caso presente do Marrocos, da Líbia, do Iêmen, Bahrein e Argélia e que seguiram os predecessores.

Neste sentido, se retoma a importância da comunicação das lutas, tão bem trabalhada por Antônio Negri e Michael Hardt em Império (2006) e Multidão (2005). Utilizando estes acontecimentos no mundo Árabe como um exemplo e rompimento paradigmático naquela região. Irrupção que se formou através da subjetivação das condições individuais e grupais e que produziu os primeiros levantes.. e pelo processo de comunicação, comunhão, se forma a grande Multidão. Um corpo heterogêneo, multifacetado, artificial, fruto das relações e da Politica comunitária, e que justamente são essas as características que o tornam tão forte, tão monstruosos suas ações frente ao sistema. Como referem Negri e Hardt:

Precisamos usar as expressões monstruosas da multidão para desafiar as mutações da vida artificial transformadas em mercadorias, o poder capitalista de pôr a venda as metamorfoses da natureza, a nova eugenia que dá sustentação ao poder vigente. É no novo mundo dos monstros que a humanidade tem que agarrar o seu futuro (NEGRI; HARDT, 2005 b: 256)

Nesta linha, percebe-se que o processo de comunicação é possibilitado através da criação e retomada da ideia de comum, situações pessoais, condições de vida, opressão social, dominação politica, exploração mercantil... diversos fatores que os ligam e que fazem parte, de forma comum, das pautas dos movimentos que se interligam e se sucedem. Assim colocam os autores:

Em termos conceituais, a multidão substitui a dupla contraditória identidade-diferença pela dupla complementar partilha-singularidade. Na prática, a multidão fornece um modelo pelo qual nossas expressões de singularidade não são reduzidas ou diminuídas em nossa comunicação e colaboração com outros na luta, com o resultado de que formamos hábitos, práticas, condutas e desejos comuns cada vez maiores – em suma, com a mobilização e a extensão globais do comum (NEGRI; HARDT, 2005: 282)

Possível analisar ainda, que o mundo Árabe parece estar passando pelo mesmo caminho que passou a América Latina, muito embora esta não tenha se desvencilhado totalmente das amarras do Império. Vê-se ainda, que este parece uma nuvem de gafanhotos em total desequilíbrio e que se deslocam de terras em terras, sugando e destruindo toda a capacidade produtiva, cultural e social. Mas com certa característica, esta nuvem, só se desloca quando expulsa pela Multidão.

Impossível saber o desfecho, até porque os eventos estão em plena efervescência. Mas a simples renovação da capacidade de indignar-se deve ser considerada como uma grande vitória e que se trata de um projeto politico social que está em aberto, andando, lutando. Contrariando a pretensa ideia Imperial de fim da história legitimando a sua perpetuação.

Espera-se que esta luta seja conduzida durante e após (pois a luta não termina) desta forma, comunitária, e que permita a seus integrantes, participarem da (re)construção cultural, identitária, política e social do mundo Árabe.

Enquanto isso, sigamos acompanhando e comunicando esta luta.. assim como, tentando produzir conhecimentos e identidades contra-hegemônicas!!

Segue ainda, a indicação do texto publicado no blog Assessoria Jurídica Popular (Ricardo Prestes Pazello)

E ainda, veículos que tem acompanhado os processos políticos populares – a democracia sendo tecida!!

Editorial sobre a Líbia

Reportagem Argélia

Reportagem Bahrein

Marrocos

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