Essa postagem se justifica no sentido de
que, analisado o caso do Egito e da vitória popular conquistada naquele espaço
tempo e antes pelo povo tunisiano, ainda que não perca e nenhum momento e nível
a sua importância, talvez a sua maior significação, no meu entendimento, seja o
rompimento com uma “naturalidade” instaurada no tempo/espaço da região/cultura Árabe
e que ocasiona as insurgências comunitárias locais. Como é o caso presente do
Marrocos, da Líbia, do Iêmen, Bahrein e Argélia e que seguiram os predecessores.
Neste sentido, se retoma a importância da
comunicação das lutas, tão bem trabalhada por Antônio Negri e Michael Hardt em
Império (2006) e Multidão (2005). Utilizando estes acontecimentos no mundo Árabe
como um exemplo e rompimento paradigmático naquela região. Irrupção que se
formou através da subjetivação das condições individuais e grupais e que
produziu os primeiros levantes.. e pelo processo de comunicação, comunhão, se
forma a grande Multidão. Um corpo heterogêneo, multifacetado, artificial, fruto
das relações e da Politica comunitária, e que justamente são essas as características
que o tornam tão forte, tão monstruosos suas ações frente ao sistema. Como
referem Negri e Hardt:
Precisamos
usar as expressões monstruosas da multidão para desafiar as mutações da vida
artificial transformadas em mercadorias, o poder capitalista de pôr a venda as
metamorfoses da natureza, a nova eugenia que dá sustentação ao poder vigente. É
no novo mundo dos monstros que a humanidade tem que agarrar o seu futuro
(NEGRI; HARDT, 2005 b: 256)
Nesta linha, percebe-se que o processo de
comunicação é possibilitado através da criação e retomada da ideia de comum,
situações pessoais, condições de vida, opressão social, dominação politica,
exploração mercantil... diversos fatores que os ligam e que fazem parte, de
forma comum, das pautas dos movimentos que se interligam e se sucedem. Assim
colocam os autores:
Em
termos conceituais, a multidão substitui a dupla contraditória
identidade-diferença pela dupla complementar partilha-singularidade. Na
prática, a multidão fornece um modelo pelo qual nossas expressões de
singularidade não são reduzidas ou diminuídas em nossa comunicação e
colaboração com outros na luta, com o resultado de que formamos hábitos,
práticas, condutas e desejos comuns cada vez maiores – em suma, com a
mobilização e a extensão globais do comum (NEGRI; HARDT, 2005: 282)
Possível analisar ainda, que o mundo Árabe
parece estar passando pelo mesmo caminho que passou a América Latina, muito
embora esta não tenha se desvencilhado totalmente das amarras do Império. Vê-se
ainda, que este parece uma nuvem de gafanhotos em total desequilíbrio e que se
deslocam de terras em terras, sugando e destruindo toda a capacidade produtiva,
cultural e social. Mas com certa característica, esta nuvem, só se desloca
quando expulsa pela Multidão.
Impossível saber o desfecho, até porque os
eventos estão em plena efervescência. Mas a simples renovação da capacidade de
indignar-se deve ser considerada como uma grande vitória e que se trata de um
projeto politico social que está em aberto, andando, lutando. Contrariando a
pretensa ideia Imperial de fim da história legitimando a sua perpetuação.
Espera-se que esta luta seja conduzida
durante e após (pois a luta não termina) desta forma, comunitária, e que
permita a seus integrantes, participarem da (re)construção cultural, identitária,
política e social do mundo Árabe.
Enquanto isso, sigamos acompanhando e
comunicando esta luta.. assim como, tentando produzir conhecimentos e
identidades contra-hegemônicas!!
Segue ainda, a indicação do texto publicado
no blog Assessoria Jurídica Popular (Ricardo Prestes Pazello)
E ainda, veículos que tem acompanhado os
processos políticos populares – a democracia sendo tecida!!
Editorial sobre a Líbia
Reportagem Argélia
Reportagem
Bahrein
Marrocos
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