sábado, 5 de fevereiro de 2011

Distrito 9 e a capacidade da modernidade de asilar

A presente postagem é no sentido de inaugurar a seção de filmes estrangeiros neste blog, tendo em vista que até então foram indicados apenas filmes nacionais, não que estes tenham esgotado seu potencial criativo.

Tal seção é inaugurada com a indicação do filme “Distrito 9” do diretor Neill Blomkamp (2009). A indicação e lembrança deste filme surge no decorrer das leituras de “vidas desperdiçadas” de Zygmunt Bauman (2005). Na parte em que trabalha a problemática do asilo econômico, imigração ou refúgio, resultado do processo de modernização e seu projeto politico e a consequente necessidade de descarte de indivíduos, em contingentes sempre crescentes, que não se adequam ao paradigma de sociabilidade, ou o paradigma de sociabilidade moderna e ocidental que não possui espaço para este contingente de indivíduos, e os espaços estão cada vez mais diminuindo, tendo em vista o objetivo de ser leve e fluido, sem fronteiras ou laços que o prendam.

O filme apresenta a relação travada com um contingente de alienígenas que vivem na terra, tendo estes recebido asilo, tendo em vista que se desalojaram de sua terra natal. Entretanto, tal condição se faz como um amontoado, constantemente vigiado e estudado, já que possuíam um potencial tecnológico superior.

O que chama a atenção é a forma como são tratados e como a relação é pautada/ gestionada. Encerrados num verdadeiro campo de concentração, o Outro, o alienígena que representa a ameaça que reside no diferente, no desconhecido, no inassimilável.

O filme retrata uma suposta relação fictícia entre humanos e alienígenas, entretanto, tal condição é levada à cabo em condições reais, no dia-a-dia de diversos contingentes de indivíduos descartados pela dinâmica global de produção de lixo humano e a sua remoção ou armazenamento. Vale a colocação de Bauman:
A caminho dos campos de refugiados, os futuros internos se veem despidos de todos os elementos que compõem suas identidades, menos um: a condição de refugiados sem Estado, sem lugar, sem função. De dentro das cercas do campo, são reduzidos a uma massa sem rosto, e lhes é negado o acesso às amenidades elementares das quais se extraem as identidades, assim como dos fios com que elas são tecidas (BAUMAN, 2005: 97)

Nesse sentido, é a categoria de homo sacer de Giorgio Agamben, o individuo supérfluo que vive uma vida que não merece ser vivida. Desta feita, mata-los não é qualquer crime, assim como também não serve como ritual, uma vida nua.

Análise semelhante fez Hannah Arendt, ao analisar os campos de concentração da segunda Guerra Mundial e o processo de desconsideração da personalidade de determinado grupo de seres..

E tal condição tem permeado a forma e o trato que se dispensa com os guetos urbanos, realidade muito apropriada para o Brasil, sendo esta uma forma de asilo econômico, encerramento e depósito de indivíduos que não fazem parte do mapa cognitivo da modernidade consumista e sua trama de relações, e ainda, de pessoas que não tem qualquer perspectiva de vir a fazer parte deste grupo, pois as pontes foram destruídas. Temas muito bem tratados por Loic Wacquant.
Segue o treiler do filme: 

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