
Tal seção é inaugurada com a indicação do filme “Distrito 9” do diretor Neill Blomkamp (2009). A indicação e lembrança deste filme surge no decorrer das leituras de “vidas desperdiçadas” de Zygmunt Bauman (2005). Na parte em que trabalha a problemática do asilo econômico, imigração ou refúgio, resultado do processo de modernização e seu projeto politico e a consequente necessidade de descarte de indivíduos, em contingentes sempre crescentes, que não se adequam ao paradigma de sociabilidade, ou o paradigma de sociabilidade moderna e ocidental que não possui espaço para este contingente de indivíduos, e os espaços estão cada vez mais diminuindo, tendo em vista o objetivo de ser leve e fluido, sem fronteiras ou laços que o prendam.

O que chama a atenção é a forma como são tratados e como a relação é pautada/ gestionada. Encerrados num verdadeiro campo de concentração, o Outro, o alienígena que representa a ameaça que reside no diferente, no desconhecido, no inassimilável.
O filme retrata uma suposta relação fictícia entre humanos e alienígenas, entretanto, tal condição é levada à cabo em condições reais, no dia-a-dia de diversos contingentes de indivíduos descartados pela dinâmica global de produção de lixo humano e a sua remoção ou armazenamento. Vale a colocação de Bauman:
A caminho dos campos de refugiados, os futuros internos se veem despidos de todos os elementos que compõem suas identidades, menos um: a condição de refugiados sem Estado, sem lugar, sem função. De dentro das cercas do campo, são reduzidos a uma massa sem rosto, e lhes é negado o acesso às amenidades elementares das quais se extraem as identidades, assim como dos fios com que elas são tecidas (BAUMAN, 2005: 97)
Nesse sentido, é a categoria de homo sacer de Giorgio Agamben, o individuo supérfluo que vive uma vida que não merece ser vivida. Desta feita, mata-los não é qualquer crime, assim como também não serve como ritual, uma vida nua.
Análise semelhante fez Hannah Arendt, ao analisar os campos de concentração da segunda Guerra Mundial e o processo de desconsideração da personalidade de determinado grupo de seres..
E tal condição tem permeado a forma e o trato que se dispensa com os guetos urbanos, realidade muito apropriada para o Brasil, sendo esta uma forma de asilo econômico, encerramento e depósito de indivíduos que não fazem parte do mapa cognitivo da modernidade consumista e sua trama de relações, e ainda, de pessoas que não tem qualquer perspectiva de vir a fazer parte deste grupo, pois as pontes foram destruídas. Temas muito bem tratados por Loic Wacquant.
Segue o treiler do filme:
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