Esta postagem surge no momento que a mídia toda
dirige as suas lentes para a visita do presidente B. Obama ao Brasil, ao tempo
em que os EUA leva a sua missão humanizadora e pacificadora a Líbia. Obviamente
que tal se dá através da guerra, de uma invasão. Auxiliado pelos joguetes
internacionais França, Inglaterra e Itália. Rememorando a Aliança da II Guerra
Mundial.
Acerca da posição de subalternidade que
assume a Europa no plano internacional de dominação ocidental, assevera Touraine:
Disso precisamos concluir não só que a
Europa é um Estado sem nação, mas que este Estado é fraco, desempenhando uma
nação mais gerencial do que política. E, já que a Europa não é uma nação, é ao
espaço intelectual, científico, artístico e cultural formado por um conjunto de
países, de cidades, de correntes de ideias, de escolas, de centros de pesquisa
que precisamos pedir que seja mais criativo, mais independente dos Estados
Unidos, e também mais cosmopolita e multicultural (TOURAINE, 2007. p. 54)
Em
postagem anterior, ressaltei a importância das ocorrências em terreno líbio, e
ainda mais importante os reflexos que tem exercido sobre aquela região a tomada
de consciência do povo, situação que se espalhou produzindo a comunicação da luta
e influenciou diversos países que se insurgiram contra regimes ditatoriais e
totalitários.
Assim,
faz-se o individuo rebelde de que fala Touraine, necessário à Revolução
paradigmática do regime político, social e cultural através do genuíno e sem
limites exercício da cidadania. Exercício este que o paradigma
constitucionalista não comporta. Ao contrário, o teme. Nesse sentido é a colocação
de Touraine:
o sujeito é, mais que uma palavra
libertadora, uma ação e uma consciência que, o mais das vezes, não se afirma
senão pelo combate contra as forças organizadas, que, dando embora uma existência
concreta ao sujeito, ameaçam destruí-lo, segundo o modelo bem conhecido dos
movimentos religiosos, políticos e sociais que, em nome de um Deus, do povo ou
da liberdade e da igualdade, se apoderaram do poder e reduziram ao silêncio as
liberdades pessoais (TOURAINE, 2007. p. 26)
Com
a intervenção norte americana a reflexão que surge é; os EUA (e seus aliados) está
preocupado/incomodado com o paradigma de democracia sem fim que pode surgir e a
comunicação deste paradigma para as outras localidades e obviamente o risco que
um surgimento neste nível poderia oferece à sua democracia imposta, ou, apenas
mais um mercado consumidor e produtor de matéria prima para a sua dinâmica desenvolvimentista
consumista.
E
certamente que se teria de utilizar o discurso totalitário da civilização
ocidental, humanitário e pacificador, pseudamente preocupado com o bem comum
que reside na sua episteme dominadora e desumanizante.
Interessante
como se remontam as mesmas lutas ou objetos de luta de tempos em tempos.. sendo
as mesmas lutas e justificativas desde a Idade Média, apenas se aperfeiçoam os
instrumentos de dominação e violência.
Com a permissão da declaração de legibus solutus, segundo Senellart, a necessitas teria derrubado, embora sem
destruí-la, a antítese medieval entre rex
justus e tirano, abrindo espaço para uma violação permitida da ordem
jurídica, sob a justificativa do interesse público ou do bem comum. Desta
forma, o pensamento moderno da razão de Estado não significaria necessariamente
uma ruptura com o pensamento medieval (BERCOVICI, 2008. p. 56)
Vale
trazer que, como propõe Lafer (1988) a partir da leitura de Hannah Arendt, com
a ajuda invasiva ocidental não se está
produzindo poder, que só é criado através do empoderamento político, da
alteridade, da cidadania genuína, e democracia sem fim; está sim, se exercendo violência
e colonizando os bárbaros.
Por
esta via que se instaura ou reforça o estado de exceção permanente que é
produzido pela liberdade e igualdade das democracias liberais.
Neste
sentido, interessante (para não dizer lamentável) trazer o mapeamento feito
pela redação do Zero Hora dos regimes políticos no mundo, dividindo-as em
democracias plenas (EUA e aliados), democracia com falhas (Brasil, Chile e países
emergentes) regimes híbridos (Rússia
e leste europeu), e regimes autoritário (China, continente Africano e Oriente Médio).
Ou,
re-denominando, a partir de outra leitura, são os países consumidores liberais
burgueses, os países que se abriram ao ideário do mercado, os países que podem
vir a ser uma ameaça ou que já foram, e por fim os que são uma ameaça,
respectivamente.
Acredito
que tal situação no plano internacional torne exato o entendimento de Giorgio Agamben,
da exceção ser o paradigma de governo, da proliferação de vidas nuas descartáveis
ou de inimigos objetivos como propunha Arendt, da regra do consumo, da
perversidade da regulação e incapacidade de emancipação!
Finalizo com a exaltação de Gilberto Bercovici ao final da obra Soberania e Constituição: para uma crítica do constitucionalismo (2008), acerca da necessidade de reflexão e uma
análise crítica da situação moderna, tanto no plano internacional, como na dinâmica
interna que nada mais é que uma reprodução!
Ou escolhemos a verdade do estado de
exceção permanente a que estamos submetidos, e que muitos fingem que não
enxergam, ignorando a realidade. Ou escolhemos a outra verdade, a do outro
estado de exceção, a da exceção à exceção, a do estado de exceção a ser ainda
instaurado, a do povo constituinte em busca de sua efetiva e plena emancipação
(BERCOVICI, 2008. p. 344)
Link do mapeamento feito no sítio do ZH (5 de fevereiro)
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Mundo&newsID=a3199781.xml