domingo, 20 de março de 2011

Auto-incumbência totalitária humanizadora Norte Americana

Esta postagem surge no momento que a mídia toda dirige as suas lentes para a visita do presidente B. Obama ao Brasil, ao tempo em que os EUA leva a sua missão humanizadora e pacificadora a Líbia. Obviamente que tal se dá através da guerra, de uma invasão. Auxiliado pelos joguetes internacionais França, Inglaterra e Itália. Rememorando a Aliança da II Guerra Mundial.

Acerca da posição de subalternidade que assume a Europa no plano internacional de dominação ocidental, assevera Touraine:

Disso precisamos concluir não só que a Europa é um Estado sem nação, mas que este Estado é fraco, desempenhando uma nação mais gerencial do que política. E, já que a Europa não é uma nação, é ao espaço intelectual, científico, artístico e cultural formado por um conjunto de países, de cidades, de correntes de ideias, de escolas, de centros de pesquisa que precisamos pedir que seja mais criativo, mais independente dos Estados Unidos, e também mais cosmopolita e multicultural (TOURAINE, 2007. p. 54)

Em postagem anterior, ressaltei a importância das ocorrências em terreno líbio, e ainda mais importante os reflexos que tem exercido sobre aquela região a tomada de consciência do povo, situação que se espalhou produzindo a comunicação da luta e influenciou diversos países que se insurgiram contra regimes ditatoriais e totalitários.

Assim, faz-se o individuo rebelde de que fala Touraine, necessário à Revolução paradigmática do regime político, social e cultural através do genuíno e sem limites exercício da cidadania. Exercício este que o paradigma constitucionalista não comporta. Ao contrário, o teme. Nesse sentido é a colocação de Touraine:

o sujeito é, mais que uma palavra libertadora, uma ação e uma consciência que, o mais das vezes, não se afirma senão pelo combate contra as forças organizadas, que, dando embora uma existência concreta ao sujeito, ameaçam destruí-lo, segundo o modelo bem conhecido dos movimentos religiosos, políticos e sociais que, em nome de um Deus, do povo ou da liberdade e da igualdade, se apoderaram do poder e reduziram ao silêncio as liberdades pessoais (TOURAINE, 2007. p. 26)

Com a intervenção norte americana a reflexão que surge é; os EUA (e seus aliados) está preocupado/incomodado com o paradigma de democracia sem fim que pode surgir e a comunicação deste paradigma para as outras localidades e obviamente o risco que um surgimento neste nível poderia oferece à sua democracia imposta, ou, apenas mais um mercado consumidor e produtor de matéria prima para a sua dinâmica desenvolvimentista consumista.

E certamente que se teria de utilizar o discurso totalitário da civilização ocidental, humanitário e pacificador, pseudamente preocupado com o bem comum que reside na sua episteme dominadora e desumanizante.
Interessante como se remontam as mesmas lutas ou objetos de luta de tempos em tempos.. sendo as mesmas lutas e justificativas desde a Idade Média, apenas se aperfeiçoam os instrumentos de dominação e violência.

Com a permissão da declaração de legibus solutus, segundo Senellart, a necessitas teria derrubado, embora sem destruí-la, a antítese medieval entre rex justus e tirano, abrindo espaço para uma violação permitida da ordem jurídica, sob a justificativa do interesse público ou do bem comum. Desta forma, o pensamento moderno da razão de Estado não significaria necessariamente uma ruptura com o pensamento medieval (BERCOVICI, 2008. p. 56)

Vale trazer que, como propõe Lafer (1988) a partir da leitura de Hannah Arendt, com a ajuda invasiva ocidental não se está produzindo poder, que só é criado através do empoderamento político, da alteridade, da cidadania genuína, e democracia sem fim; está sim, se exercendo violência e colonizando os bárbaros.
Por esta via que se instaura ou reforça o estado de exceção permanente que é produzido pela liberdade e igualdade das democracias liberais.

Neste sentido, interessante (para não dizer lamentável) trazer o mapeamento feito pela redação do Zero Hora dos regimes políticos no mundo, dividindo-as em democracias plenas (EUA e aliados), democracia com falhas (Brasil, Chile e países emergentes) regimes híbridos (Rússia e leste europeu), e regimes autoritário (China, continente Africano e Oriente Médio).

Ou, re-denominando, a partir de outra leitura, são os países consumidores liberais burgueses, os países que se abriram ao ideário do mercado, os países que podem vir a ser uma ameaça ou que já foram, e por fim os que são uma ameaça, respectivamente.

Acredito que tal situação no plano internacional torne exato o entendimento de Giorgio Agamben, da exceção ser o paradigma de governo, da proliferação de vidas nuas descartáveis ou de inimigos objetivos como propunha Arendt, da regra do consumo, da perversidade da regulação e incapacidade de emancipação!

Finalizo com a exaltação de Gilberto Bercovici ao final da obra Soberania e Constituição: para uma crítica do constitucionalismo (2008), acerca da necessidade de reflexão e uma análise crítica da situação moderna, tanto no plano internacional, como na dinâmica interna que nada mais é que uma reprodução!

Ou escolhemos a verdade do estado de exceção permanente a que estamos submetidos, e que muitos fingem que não enxergam, ignorando a realidade. Ou escolhemos a outra verdade, a do outro estado de exceção, a da exceção à exceção, a do estado de exceção a ser ainda instaurado, a do povo constituinte em busca de sua efetiva e plena emancipação (BERCOVICI, 2008. p. 344)

Link do mapeamento feito no sítio do ZH (5 de fevereiro)
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Mundo&newsID=a3199781.xml

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